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Campo Bom se despede do tropeiro Adão Preto
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Faleceu nesta sexta-feira aos 94 Adão Manoel dos Reis, mais conhecido como Adão Preto, um bastião da cultura gaúcha em Campo Bom. Um dos últimos tropeiros do estado ele foi patrono da primeira Tropeada de Campo Bom realizada na Semana Farroupilha de 2019. Naquela oportunidade teve uma breve biografia divulgada (Leia abaixo) que relata toda a sua trajetória e importância para a cidade. O tradicionalismo gaúcho na sua essência tinha na imagem do seu Adão a representação em Campo Bom. Através das redes sociais o prefeito Luciano Orsi fez uma última homenagem ao tropeiro:
“A cada pouso um recuerdo”
Perde o nosso Campo Bom, perde o Rio Grande, foi tropear na querência grande do céu Adão Manoel dos Reis, nosso Adão Preto. Sua chegada há de pontear outras tropas, desta vez a olhar por nós, que aqui permanecemos honrando seu legado de simplicidade e muitos aprendizados no lombo do cavalo.
Lamento sua partida e abraço sua família, neste momento.
Diversas outras entidades e amigos manifestaram pesar pela morte do tradicionalista.
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Adão Preto: Uma vida dedicada a tradição gaúcha
Em 26 março de 1927, nascia no interior de São Francisco de Paula, Adão Manoel dos Reis, hoje com 92 anos (de registro). Adão Preto, como é conhecido, ficou órfão de mãe logo ao nascer, seu pai então o entregou a família Lopes na qual trabalhava. A sua mãe de criação, fazendeira da região com um casal de filhos biológicos também ficou viúva logo em seguida, sendo que Adão, o único negro na família, cresceu desde cedo camperiando a cavalo pela fazenda. Tanto que, aos 15 anos, ele já fazia todas as lidas da fazenda e logo em seguida assumiu a função de capataz, pois sua mãe depositava plena confiança para administrar a fazenda, em meados de 45.
Foi por esta época que se iniciou sua jornada de peão e tropeiro, pois junto de sua mãe e seu irmão de criação saiam da fazenda em São Francisco para vender queijo em vacaria e comprar mantimentos para eles e vizinhos, no lombo de mulas.
Mais tarde suas tropeiradas eram só ele e seu irmão de criação que o acompanhava, quando levavam tropas de gado para vender em matadouros da região metropolitana, mais precisamente o de Viamão, tropiou varas de porcos de Jaquirana até Rolante (tropas de 150 a 200 porcos ), também faziam viagens para comprar e buscar mantimentos diversos da região litorânea de RS e SC para as fazendas de cima da serra, sendo que os cargueiros eram mulas em média de 20 a 25 animais conduzido pela égua madrinha, trazendo cada uma delas 90kg de carga.
Nesta passagem de sua vida os negócios eram feitos na palavra e no fio do bigode, seu Adão tanto comprava mantimentos para as fazendas como vendia tropas de gado aos matadouros, mas o fator mais peculiar que os lotes de gado vendido aos matadouros eram pesados na balança de São Francisco e conferido pelo seu Adão o qual até hoje não sabe ler e nem escrever, e levava estas marcações em sua memória até o final da viagem.
Hoje, Adão é único vivo de sua família biológica e adotiva, seu carisma é inexplicável tanto em Campo Bom quanto nas cidades de cima da Serra por onde passou. Sua memória também é invejável, pois relata os fatos nos detalhes.
Adão Preto foi acolhido pelo CTG M’Bororé, onde se tornou idealizador e organizador da cavalgada da Primavera, atuando até hoje na entidade.